quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ainda sobre o dia 11 de Julho


Quando? Muito tempo depois “daquela” chuva.
Onde? No lugar que teve o ciclo cotidiano interrompido por um rio de lama

Hoje eu me senti o rio, invadindo a vida e quebrando a rotina dos moradores. Aquele senhor estava, como de costume, sentado na porta da quitandinha: “Seu Toinho! ”. “Bom dia, seu Toinho!”. Seu Toinho respondia com alegria o cumprimento de todos que passavam, como de costume. Trabalhando! Costume esse que que ele adquiriu desde muito moço, lá na cidade de  Tarumirim em Minas. E o meu rio então entrou na quitanda, o seguiu na rua, e foi parar dentro da sua casa, onde as paredes ainda pareciam molhadas com a invasão do outro rio que entrou ali e levou embora bem mais do que alguns móveis - “Menos aquele armário antigo” que guarda as panelas, “Esse não levou, não”. Seu Toinho é um trabalhador, muito simples e sorridente, e falou com a sabedoria dos vividos sobre seu passado, sua chegada ao Jardim Romano, as enchentes que vieram bater à sua porta e voltaram e da que entrou sem bater, dos paneleiros, dos políticos e com muito orgulho e brilho nos olhos, de seus filhos. Mostrou as fotos dos filhos e dos netos reunidos no dia do seu aniversário, e foi lá dentro, no quarto, pegar a camisa que ganhou de um deles, mas que nunca usou, pois é um homem simples. “Pergunte mais, minha filha! Pode perguntar.” E então, lembrou que é um homem trabalhador e se despediu. Meu rio não o seguiu, ficou ali mergulhado como água parada de chuva. Encharcado na memória de um jardim que ainda era brejo.
  ... só ouvindo o barulho dos sapos...



Por Recy Freire
no Ateliê Memória e Narrativa
(na companhia gentil de Wemerson Nunes)
Jardim Romano
11/07/2012

4 comentários:

  1. Tem como não se apaixonar pela história do Seu Toinho? Achei esse texto de uma beleza inspiradora. Dá vontade de ser rio também...

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  2. Que bonito isso....e esse rio/romano é contagiante sim!

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  3. Esse rio seu é cachoeira, menina.

    Lava a alma.

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  4. Cachoeira, é isso, esse rio é cachoeira!

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