Quando?
Muito tempo depois “daquela” chuva.
Onde? No
lugar que teve o ciclo cotidiano interrompido por um rio de lama
Hoje
eu me senti o rio, invadindo a vida e quebrando a rotina dos moradores. Aquele
senhor estava, como de costume, sentado na porta da quitandinha: “Seu Toinho! ”.
“Bom dia, seu Toinho!”. Seu Toinho respondia com alegria o cumprimento de todos
que passavam, como de costume. Trabalhando! Costume esse que que ele adquiriu
desde muito moço, lá na cidade de
Tarumirim em Minas. E o meu rio então entrou na quitanda, o seguiu na
rua, e foi parar dentro da sua casa, onde as paredes ainda pareciam molhadas
com a invasão do outro rio que entrou ali e levou embora bem mais do que alguns
móveis - “Menos aquele armário antigo” que guarda as panelas, “Esse não levou,
não”. Seu Toinho é um trabalhador, muito simples e sorridente, e falou com a
sabedoria dos vividos sobre seu passado, sua chegada ao Jardim Romano, as
enchentes que vieram bater à sua porta e voltaram e da que entrou sem bater,
dos paneleiros, dos políticos e com muito orgulho e brilho nos olhos, de seus
filhos. Mostrou as fotos dos filhos e dos netos reunidos no dia do seu
aniversário, e foi lá dentro, no quarto, pegar a camisa que ganhou de um deles,
mas que nunca usou, pois é um homem simples. “Pergunte mais, minha filha! Pode
perguntar.” E então, lembrou que é um homem trabalhador e se despediu. Meu rio
não o seguiu, ficou ali mergulhado como água parada de chuva. Encharcado na
memória de um jardim que ainda era brejo.
... só ouvindo o barulho dos sapos...
Por
Recy Freire
no Ateliê
Memória e Narrativa
(na companhia gentil de Wemerson Nunes)
(na companhia gentil de Wemerson Nunes)
Jardim
Romano
11/07/2012
Tem como não se apaixonar pela história do Seu Toinho? Achei esse texto de uma beleza inspiradora. Dá vontade de ser rio também...
ResponderExcluirQue bonito isso....e esse rio/romano é contagiante sim!
ResponderExcluirEsse rio seu é cachoeira, menina.
ResponderExcluirLava a alma.
Cachoeira, é isso, esse rio é cachoeira!
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