
O coletivo Estopô Balaio há três anos desenvolve uma ocupação no Jardim Romano, bairro do extremo leste paulistano, através de um processo investigativo das realidades sociais dos moradores a partir de suas experiências com as águas de enchentes que assolaram suas vidas durantes dez anos. A última ocorrida em 2010 deixou parte do bairro submerso três meses.
As narrativas memoriais do bairro revelaram estórias de assombro e horror, desde a morte de uma criança por envenenamento de cloro a
contração de doenças graves. O morador foi obrigado a reinventar a vida, a criar perspectivas de sobrevivência e re-existência . O processo de encontro com os moradores aconteceu nas ruas e nas casas através de conversas e cafés que logo foram aguçando o olhar e o procedimento do encontro foi registrado através de entrevistas gravadas em vídeos realizadas nas casas dos moradores.
O lugar de abrigo desta memória escolhido como imagem simbólica para a construção desse trabalho é a casa. A casa como nosso primeiro canto de mundo e lugar onde guardamos os sonhos e abrigamos o descanso. O que resta quando este lugar "perde" sua razão simbólica através da invasão das águas das enchentes? O que pode o homem diante dessa condição? A partir de questionamentos como estes nos elaboramos um outro: O que pode a poesia operar em situações de trauma social? Aqui mergulhamos nas águas tortuosas dessa memória para eclodir processos de teatralidade através de materialidades artísticas geradas pelas relações entre artistas "estrangeiros" e artistas moradores através de um espaço relacional em estado de criação. A imagem da casa é evocada para mergulhar na subjetividade, naquela que é produzida através de um viés poético para mergulhar nas profundidades das águas memoriais do Jardim Romano.