quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um encontro com Seu Fernando



            E a brincadeira se deu ali debaixo do meu nariz, no encontro com aquele senhor sorridente, que na primeira pergunta que fiz, me respondeu de pronto, que aqui não tinha nada, que era só mato, mato alto! Foi o que Seu Fernando viu quando voltou a cidade com a esposa que conheceu numa feira na Bahia, por onde andou de esquina em esquina vendendo os quadros que pintava. A brincadeira de perguntas e respostas trouxeram à sua memória coisas que ele não queria recordar e ali no quarto/sala, vi o homem adulto se emocionar ao lembrar da dificuldade que foi ser menino. Não quis falar, calou! Mas logo retomou o ar sorridente e contou da adversidade que enfrentou ao chegar, vivendo numa casa que não tinha teto, não tinha nada, num chão encharcado da água de um rio, que quando enchia, enchia a casa de peixe. Seu Fernando falou daqui desse lugar, no tempo que se pescava peixe e caçava rato suíço no mato alto. No tempo que o rio respeitava a fronteira que Romanos ainda nem os compreendiam. O tempo do começo.

Recy Freire



Materialidade textual produzida durante o ateliê Memória e Narrativa de 15 de julho de 2012.

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