E a brincadeira se deu ali debaixo do meu nariz, no encontro
com aquele senhor sorridente, que na primeira pergunta que fiz, me respondeu de
pronto, que aqui não tinha nada, que era só mato, mato alto! Foi o que Seu
Fernando viu quando voltou a cidade com a esposa que conheceu numa feira na
Bahia, por onde andou de esquina em esquina vendendo os quadros que pintava. A brincadeira
de perguntas e respostas trouxeram à sua memória coisas que ele não queria
recordar e ali no quarto/sala, vi o homem adulto se emocionar ao lembrar da
dificuldade que foi ser menino. Não quis falar, calou! Mas logo retomou o ar
sorridente e contou da adversidade que enfrentou ao chegar, vivendo numa casa
que não tinha teto, não tinha nada, num chão encharcado da água de um rio, que
quando enchia, enchia a casa de peixe. Seu Fernando falou daqui desse lugar, no
tempo que se pescava peixe e caçava rato suíço no mato alto. No tempo que o rio
respeitava a fronteira que Romanos ainda nem os compreendiam. O tempo do
começo.
Recy Freire
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Materialidade textual produzida durante o ateliê Memória e Narrativa de 15 de julho de 2012. |
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