terça-feira, 21 de agosto de 2012

Sobre Dona Beti


Vejamos então o que minha IMAGINAÇÃO diz sobre DONA BETI:
Temente a DEUS, veio do NORDESTE, objetivando proporcionar melhores condições às suas crianças (que eram três), principalmente para a menina do meio, que for picada por uma COBRA coral. Cabe a mim, resumir como se deu o ocorrido (Ah! E é importante dizer que eu não estive lá, com ela, quando isso aconteceu, mas após ter ouvido Dona Beti FALAR, nada mais natural que ver o quê e como, para mim, ocorreu):
A menina do meio estava brincando na RUA, de bola, com os meninos, a bola caiu no mato seco, a menina foi buscar. Mato adentro a menina foi entrar, viu o mato amassado e começou a se aproximar, imaginou: “A bola, ali deve estar!”. Não mais que de repente começou a ESCUTAR um revirozinho de leve e de pertinho foi olhar. Escavucou o ninhozinho, que muito PÓ começou a liberar e gritou, depois de um rabinhozinho armado avistar: “Meu Deus! É cobra! É cobra! E daqui a pouco vai pular”.
A vizinhança toda escutou e Dona Beti, o FOGÃO largou, logo a arma sacou, correu rua afora e esbaforida chegou. Ninguém sabe como, mas Seu Toinho, o vizinho, lá antes chegou. Com a menina no colo foi logo dizendo: “Eita que a cobra já picou! Dona Beti, não vai tê jeito não, o veneno já entrou!”.
Dona Beti desmaiou, nem sabem quem, a menina, para o hospital levou.
O que eu sei é que depois é que depois que Dona Beti acordou, correu para a IGREJA e, incessantemente rezou. Foi quando o celular tocou e Não Sei Quem disse: “A menina melhorou.”
“Glória a Deus! Glória a Deus! O milagre aconteceu”, o que vocês não sabem é que Dona Beti,algo prometeu:
“Meu Deus, meu Deus! Se a menina melhorar eu prometo que pra São Paulo vou me mudar, a menina vai ser ATRIZ e essa história, pra cinco pessoas vai contar, não sei se é certo profetizar: Vai ser pra um menino e quatro meninas e pra ela, eles vão estar a olhar.
Isso, em um dia especial vais e passar: Um bairro que já esteve ALAGADO vai visitar, uma história mentirosa vai ter que contar e as palavras PREFEITURA e DOCUMENTO nesse conto vai ter que encaixar!
Mas tão confusa ela vai estar, que com reticências a história vai terminar. Não porque ela quer as regras driblar, mas porque ela tá com vontade de com eles começar a caminhar e o restante da história, quer com eles continuar ...”


Por Marina Morena.

sábado, 18 de agosto de 2012

Entre avó e neta...


Dona Adelina nos recebe e conta suas lembranças de menina. O dinheiro que aceitou da prefeitura comprou outra casa no mesmo lugar. Bateu laje, construiu em cima. Fala de suas histórias e faz a todos viajar em sua memória. Ela é minha avó materna. Cuidou de mim na infância. Admiro todo o seu saber. Me lembro sempre e não posso esquecer . Tudo que eu aprendi  estando perto de você. O que escrever de alguém que tudo sabe, tudo viu.Matou caça , era o que ela comia. Se curou de doença com banha de anta. Filha de fazendeiro, conheceu a lama do romano, morou na igreja esperando a água abaixar. Sua história daria uma bela peça de teatro.

                Por Diane Oliveira


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Um mergulho no Seu Rafael

               O que dizer quando se tem um homem com memórias transbordantes na sua frente? Nada. Cabia a todos nós ouvir. E ouvindo, imaginar. E imaginando, ser. Éramos como a correnteza e ele o rio - fazíamos o rio revelar parte de seus mistérios, mas pouco me interessava decifrá-los. Era o mistério como catalizador da dúvida, que nos deixava ali, com os olhos espantados, em frente ao portão a ouvir sobre aquele bairro-brejo. Ou melhor, sobre esse bairro-coragem, bairro-resistência, bairro-migração, bairro-periferia, bairro-Romano. Seu Rafael era o rio que estávamos prestes a mergulhar. Resolvemos tapar o nariz e entrar na água. Não! Destapemos! Aquele cheiro forte podia ser sentido das margens e das casas ribeirinhas. Era um desprendimento de energia desnecessário. Entremos inteiros no rio! E entramos. O rio Seu Rafael é daqueles que não dá pra ver o fundo, mas conseguimos sentir os peixinhos mordendo nossas pernas, e entre glubs glubs dizerem que não entendiam o que queríamos ali se não pescá-los e comê-los. Digo a eles que... Cobriu! A água tá chegando na boca, ela já cobriu o pescoço! Ficamos? Um vizinho ali próximo do rio deu um passo adiante e gritou: Vocês estão num buraco! Desse lado do rio, a água é nos joelhos. Ah, a sabedoria dos antigos nos pondera a permanecer. E ficamos. A água foi secando. Se aquele cheiro era de sujeira eu não sei. Desconfio que o fedor venha da água parada. Vamos movimentá-la!


Ana Carolina Marinho
Materialidade textual construída durante o ateliê de Memória e Narrativa de 15 de julho de 2012 por Ana Carolina.

Antigamente (sobre Dona Maria José)



           Antigamente no Norte só tinha brejo, ai eu me mudei para São Paulo para uma casa com uma pequena cozinha. Eu queria escrever até a minha história, depois da enchente, porque a minha casa virou um aquário. Minhas coisas ficaram todas embaixo d’água. A enchente foi tão forte que tinha até peixe na água. Ai eu te pergunto, e o que aconteceu depois da enchente? Eu dou o meu melhor sorriso e respondo, quase nada. Mas eu como pessoa mudei o meu modo de agir e pensar, e eu quero contar a minha história e a minha experiência depois da enchente. Naquele momento eu não entendia o motivo de tanta água, talvez a água veio lavar os nossos pensamentos, veio nos acordar do sonho pacato que tínhamos, veio nos mostrar a realidade e dizer para nós que apesar de todo o problema sempre há uma solução.

Keli


Materialidade construída por Keli durante o ateliê Memória e Narrativa no dia 15 de julho de 2012.

Um encontro com Seu Fernando



            E a brincadeira se deu ali debaixo do meu nariz, no encontro com aquele senhor sorridente, que na primeira pergunta que fiz, me respondeu de pronto, que aqui não tinha nada, que era só mato, mato alto! Foi o que Seu Fernando viu quando voltou a cidade com a esposa que conheceu numa feira na Bahia, por onde andou de esquina em esquina vendendo os quadros que pintava. A brincadeira de perguntas e respostas trouxeram à sua memória coisas que ele não queria recordar e ali no quarto/sala, vi o homem adulto se emocionar ao lembrar da dificuldade que foi ser menino. Não quis falar, calou! Mas logo retomou o ar sorridente e contou da adversidade que enfrentou ao chegar, vivendo numa casa que não tinha teto, não tinha nada, num chão encharcado da água de um rio, que quando enchia, enchia a casa de peixe. Seu Fernando falou daqui desse lugar, no tempo que se pescava peixe e caçava rato suíço no mato alto. No tempo que o rio respeitava a fronteira que Romanos ainda nem os compreendiam. O tempo do começo.

Recy Freire



Materialidade textual produzida durante o ateliê Memória e Narrativa de 15 de julho de 2012.

Sobre Dona Josélia



          Meu nome é Dona Josélia. Eu antes de vir morar no Romano, eu tinha uma casa lá na Bahia e eu trabalhava muito né? Ai eu logo conheci o meu marido. Foi ai que eu vim morar em São Paulo, no Jardim Romano. Eu costumo dizer que eu sou uma moradora bem antiga do romano, eu digo assim que eu fui um dos primeiros moradores daqui, né? No tempo das enchentes, eu gostava muito de falar a verdade para  a imprensa. A verdade, né? Dos políticos que não fazem nada para nós pobres. Ai no período dessas enchentes eu ia muito para a igreja pedir a Deus que essa situação acabasse, né? Aí graças a Deus passou. E hoje eu sou muito feliz e meu marido me ajuda muito até hoje, graças a Deus, né? E é isso.

Wemerson


Materialidade construída dentro de um procedimento no ateliê Memória e Narrativa de 15 de julho de 2012.